terça-feira, 15 de outubro de 2013

Uma experiência estética

Retornei há poucos dias de um passeio de férias por Cabo Frio e região no Rio de Janeiro. Apesar de conhecer a paisagem já há alguns anos fui surpreendido por uma experiência estética num processo que aconteceu a partir de vários gatilhos.
Na praia de Armação dos Búzios existe uma placa informando das semelhanças entre aquela região e o Himalaia, destacando que foram originadas da mesma forma e provavelmente na mesma época http://www.caminhosgeologicos.rj.gov.br/novo/PDF_A3/Buzios_Portico-himalaia.pdf.
Sabe-se que os continentes eram unidos e formavam uma grande extensão de terra, que posteriormente foi separada, parcialmente reagrupados e então separados na forma que temos hoje - a internet possui muitos artigos científicos interessantes e disponíveis, ver Rodínia, Pangéia, Gondwana  http://www.reservataua.com.br/origens_geologicas_de_buzios.htm.
Assim, os relevos atuais são testemunhos dessas movimentações: placas tectônicas ora afastando-se, ora comprimindo-se. Outra observação interessante é a variedade de rochas de muitas toneladas encontradas nas praias: diferentes formatos, diferentes materiais e disposições que dão a ideia de uma grande bagunça, parece que tais acontecimentos foram há pouco tempo. Essas rochas são o testemunho do que aconteceu.
No dia seguinte tive algumas agradáveis surpresas: primeiro um simpático pinguim fez a alegria na praia. Ao final do dia fui novamente passear pela Casa Ateliê de Carlos Scliar (http://carlosscliar.com/home/) e lá tive a emoção de conhecer a área reservada da casa, onde trabalhou e viveu. Mesmo sendo uma visita rápida aquilo me emocionou. Conhecer seus objetos, instrumentos, tintas e ter um contato mais próximo com o mundo de alguém tão grande pelo talento e dedicação à arte, assim como à sociedade é por si tocante.
Segui pelo canal que atravessa a cidade e num certo ponto vi algumas pessoas apressadas subindo o morro do mirante. Foi então que percebi que com o dia acabando e o céu aberto tinha uma daquelas tardes perfeitas para apreciar o pôr do sol. Nunca tive uma postura romântica de ficar suspirando o cair da tarde, sempre achei belo mas dessa vez foi diferente: aquilo me tocou...talvez por ter mudado o ponto de vista, mais alto, que torna mais dramático o espetáculo com a cidade viva indiferente abaixo e o sol sumindo no oceano, longe, lentamente; é diferente de quando se está na areia da praia e temos apenas a água entre nós, ali sugere uma distância maior, como o artista que já não se encontra conosco ou as pedras que testemunham acontecimentos perdidos no tempo.
Na manhã seguinte me despedi da cidade e fiz o retorno a São Paulo durante o dia, rodoviário e mesmo já tendo feito o trecho diversas vezes pude apreciar com tempo limpo, calma e descompromisso, a deslumbrante paisagem da serra do mar de árvores frondosas crescidas com espaço livre e o mar de montanhas, acompanhada ao longe pela serra da mantiqueira azulada e solene. Novamente penso nas forças para geração de todo esse relevo: agrupamento de montanhas, serras, grandes blocos de pedra largados num terreno. Algumas montanhas transformadas em pedreiras mostram a capa de terra com as variações de vermelhos, rosas, alaranjados, e o núcleo cinza rígido.
A apreciação transcorreu por todo o trecho de serra, horas, e veio transbordada por aquela emoção pura do dia anterior: de Scliar e sua grandiosidade; do pôr do sol e sua agonia imponente e silenciosa, das pedras de Búzios e seus segredos, da serra do mar, mar de montanhas, mar de beleza.


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